Isabel e Tiago se separaram após doze anos casados. Não foi uma separação traumática, mas os dois não estavam felizes um com o outro a muito tempo.
A separação de alguma
forma necessária para os dois.
Isabel ficou com a casa,
como o combinado com Tiago que se mudou para um apartamento menor. Teve que
comprar cama, fogão, geladeira, tv e armários. Resolveu economizar devido o
preço do aluguel. Procurou pro alguns
Brechós de São Paulo e encontrou o que queria o preço que queria em um. Comprou
tudo de uma vez e por fim viu um cobertor.
Olhou para ele pensando
se tinha cobertor nas poucas coisas que trouxe da casa antiga na separação.
O cobertor era macio,
suave, estava limpo. Tiago aproximou o cobertor de seu rosto sentindo a maciez e
exalou o perfume do coberto. Era de mulher! Sim o cheiro dizia que era de
mulher. E a estranheza do perfume que o fez se sentir bem o tomou de
sentimentos novos... – Vou comprar, disse para o vendedor do brechó.
No final de semana que
aproveitou para montar os moveis e arrumar a nova moradia, Tiago, estendeu-se a
cama com lembranças de seu casamento. Por vezes teve vontade de voltar, ligar
para Isabel e dizer que... A solidão devassa a racionalidade do homem... Tiago
chorou... Sem perceber dormiu de janela aberta acolhendo a solidão da noite, sentindo o
ventinho leve do fim do verão...Ignorando a chuva...
Algumas semanas
depois e três bebedeiras infernais que o
causou dor de estomago Tiago que foi ver
os filhos, voltou mais triste ainda no final de semana. Um lar se foi assim
da noite pro dia, o seu lar.
Tiago bebeu e dormiu
novamente com a janela aberta. Ainda era
verão, calor de trinta graus e na
madrugada estranhamente Tiago sentiu frio..
Levantou-se da cama e pegou o
cobertor que desde que comprou nunca mandou
lavar..
Ainda com o sono da
bebedeira o tomando, esticou na cama e se cobriu com o cobertor. Ao se cobrir,
sentiu o perfume intenso e suave. – É ela, o perfume dela... – disse se abraçando ao cobertor se envolvendo ao coberto , sentindo a macies o
perfume, sentindo a densidade da energia do carinho de quem usou o cobertor por
muito tempo, talvez toda uma vida. Uma mulher. - Que loucura, que doidera, que coisa ... boa.. - Tiago sentiu as emoções novas...
Ao acordar na manhã
seguinte, Tiago não sentiu mais a
solidão de até então, não sentiu mais vontade de beber, nem saudade de Isabel..
Ao acordar, a vida era outra.
Meu Deus que loucura. –
disse classicamente e foi trabalhar.
A noite quando voltou,
sentiu-se ansiosos por dormir. Por deitar e tomar o cobertor em seu corpo novamente.
Ainda com o final de
verão dominando a noite, Tiago deitou estendido sobre o cobertor, e cobriu-se.
Sentindo o carinho, a energia do carinho que nunca sentiu antes. – Caramba! –
disse feliz e assustado em seus pensamentos e prosseguiu tomando o cobertor e
envolvendo-se com ele. A energia do cobertor, do carinho de quem cuidou daquele
cobertor o dominou, tão forte e carinhosa que não quis resistir, lhe fez tão
bem que não perdeu seu tempo em tentar
uma resposta. Era o que precisa, era o que precisava em sua vida. E dormiu mais
cedo do que de costume, dormiu mais cedo como nunca dormiu antes assim tão
cedo, nem mesmo quando criança.
Acordou bem, tão bem que assoviou “ Eu te amo eu me adoro. Eu não consigo te ver sem mim” antigo sucesso da Blitz que não soube por que se lembrou. Era tanta felicidade que mesmo no emprego, todos estranharam.
Até mesmo Isabel. – Já
está com alguma?
Tiago, tentou dizer que
não, mas não pode. Estava feliz como se
alguém preenchesse suas necessidade de outro alguém. E mesmo assim não tinha ninguém, apenas a
macies e energia do carinho de alguém que usou e cuidou de um cobertor.
As coisas não eram mais
as coisas, era tudo diferente, mas pra melhor. Tiago não se importou com o
mundo, nunca disse a ninguém, mas o cobertor por fim lhe bastava.
Todos as noite ao chegar
o emprego se envolvia com o cobertor. Dormia cedo, não sai pra beber com os
amigos, e nos finais de semanas quando não visitava os filhos, parecia apressado em deixar os filhos e voltar rapidamente para a casa. Mas se controlava por amor aos filhos e não deixava de dar toda atenção. E inevitavelmente sentia saudades do aconchego do coberto, estava envolvido
com o cobertor.
Um dia ao sair pra
trabalhar mais feliz do que nunca, olhou para a cama onde o cobertor dormia
após a intensa noite, e fez a difícil pergunta que todos fazemos a nós mesmo,
para se certificar de que não estamos loucos. O que está acontecendo comigo?
Porque esse cobertor me
basta! Porque eu dormiu bem, acordo bem e nem me lembro se sonhei, e se sonhei
não me lembro do que sonhei. Mas sinto, o carinho o amor... O amor... Não... o
amor...
O amor, bastou para
Tiago. Bastou muito e após meses dormindo feliz com o cobertor, Tiago não
acordou.
Isabel, disse Estefani,
sua melhor amiga, claramente que tudo era um transtorno para ela. Reconhecer o corpo, fazer o velório, e
consolar os filhos.
- Mas tudo é estranho!
Você não acha! Tiago era novo, quarenta anos apenas. Forte saudável. E morreu
com cobertor em pleno verão?
- Sim, e morreu feliz.
Agora tenho que ir lá, pegar as coisas e entregar o apartamento você vem
comigo?
- Vou sim! Acho essa
história tão estranho. A autopsia deu alguma coisa razão pela morte do Tiago?
- Nada! Tiago era
esportista, não usa droga, se cuidava.
Acho que foi sua hora. Acho bom que tenha sido assim, ele já havia se
afastado das crianças e isso ajuda.
- Os meninos já estão crescidos. Um momento a dor da perda ira passar! E você como vai lidar com essa perda?
- Eu! Sei lá! Já havia
desistido dele faz tempo. Sabe, eu nunca o senti perto de mim, nunca senti
companheiro. Eu sei que ele gostava mais das crianças do que de mim.
- É amiga, você acha que
ele nunca esqueceu a Tainá?
- Estefani! Por favor !
- Desculpa!
- Sei -lá! Ele nunca
falou o nome dela depois que nos casamos.
- Não vou comentar, mas
o que você fez com a imagem daquele mulher era para ele esquecer mesmo.
- Eu estava apaixonada,
muito apaixonada. Tiago era lindo, forte tudo que a gente busca num homem. No
começo a gente foi feliz, mas depois...
- É.... Sei lá. Ah! Você
sabe que Ela morreu.
- Ela quem?
- Tainá!
Isabel frio o carro
bruscamente enfurecida.
- Aquela desgraçada
tinha que dar esse golpe.
- Do que você está
falando?
- Agora os dois estão
juntos!
Estefani, levou a mão na
boca assustada. Isabel, chorou de raiva e inveja.
- Mas como Isabel!
- Como? Aquela desgraçada tinha que morrer!
- Todos nós morremos!
- Eu sei, eu sei, mas aquela desgraçada até na morte me atrapalhou. Mesmo eu tendo inventado toda aquela historia dela, ter difamado ela... Tiago nunca a esqueceu, eu sinto isso e agora ele está com ela. Ah, a vida não é justa. Porque Senhor!
Estefani, tentou tantas palavras para confortar a amiga, mas desistiu Isabel esta enfurecida
Ao entrarem no
apartamento Isabel se sentiu mal.
- É aqui que ele viveu
seus últimos dias.
- Venha, vamos pegar
todas essas tralhas, e dar para algum asilo. De Tiago não quero mais
nada. Agora ele está com aquela
desgraçada. Que saber os dois se merece.
Ao dobrar o cobertor
Estefani, viu uma etiqueta discreta bordada ao lado interior do cobertor com o
nome de Tainá. Levou a mão a boca surpresa. Sentindo uma estranha energia,
que a fez pensar que aquele segredo deveria
permanecer longe de Isabel.
Dobrou o cobertor, e por amizade a amiga e
respeito aquele amor, não disse nada. Isabel em seu ódio e inveja pelo amor de
Tiago e Tainá, deveria esquece-los e começar vida nova. Certamente os dois
viviam felizes, foram felizes mesmo
distante sem nunca negar o amor um do outro, no sonho de um pelo outro.... no
carinho que reconheceu um do outro..
A energia que somos.
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